Allan
Kardec, embora não ter sido propriamente um filósofo teve a
grandeza intelectual de jamais “fechar” o pensamento espírita em
torno de uma “verdade única” e dogmática. Esse é um caráter
intrínseco do discurso filosófico: a liberdade de pensamento,
aberto à reflexão e ao progresso das ideias.
O
Espiritismo, portanto, na medida em que busca explicar a realidade
através da razão e da lógica, utiliza-se de um discurso
filosófico. Todavia, a filosofia espírita, inaugurada em O
Livro dos Espíritos,
não traduz uma simples reflexão intelectual para criar sentidos ou
significados, ao contrário, a filosofia espírita, é um saber que
se justifica com base nos fatos. Ao analisar o conjunto de sua obra,
veremos que Kardec não partiu da “crença”, mas da sólida
pesquisa, no campo da mediunidade, para, num segundo momento,
enveredar pelos caminhos da interpretação dos fatos, com base no
crivo da razão. Disso surgiu a filosofia espírita inserida,
inicialmente, em O
Livro dos Espíritos.
Kardec
afirmou que: “... o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a
todas as questões da metafísica e da ordem social; é um mundo que
se abre diante de nós.” 1
Bem se
percebe que essa doutrina não se limita, simplesmente, a produzir um
conjunto de reflexões teóricas. Seu foco é tornar-se uma filosofia
prática, capaz de contribuir de forma natural para o melhoramento
humano, individual e coletivamente.
Compreendendo
melhor, embora não totalmente, as estruturas da vida, o ser humano
passa a enfrentar mais conscientemente as vicissitudes e
adversidades, percebendo nelas, de um lado, o reflexo natural daquilo
que ele pode estar semeando e, de outro, os desafios evolutivos que
lhe cumpre enfrentar. Os desafios estimulam, no sujeito, o
desenvolvimento de forças insuspeitadas que nele estavam latentes.
Kardec
foi um defensor da dialética, do argumento, do debate de ideias
necessárias à construção do conhecimento e da própria fé. O
Espiritismo, dizia ele, não impõe uma crença cega, pois deseja que
a fé se apoie na compreensão. Por isso, deixa a cada adepto inteira
liberdade de examinar seus princípios e aspectos doutrinários.
Doutrinários sim, mas não “doutrinantes”. Assim,
também, a racionalidade empregada aos estudos espíritas deve servir
para que os seus conteúdos nos levem a um encantamento, no bom
sentido do termo, pela vida.
Jerri
Almeida
Presidente
1
O Livro dos Espíritos. Introdução, item XIII.
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