4.3.11

Carnaval: o outro lado da festa

Reflexões para um jovem espírita

Por Liliane  de Oliveira

Saturnália, em Roma
O carnaval, conforme os conceitos de Bezerra de Menezes, é festa que ainda guarda vestígios da barbárie e do primitivismo que ainda reina entre os encarnados, marcado pelas paixões do prazer violento. Como nosso imperativo maior é a Lei de Evolução, um dia tudo isso, todas essas manifestações ruidosas que marcam nosso estágio de inferioridade desaparecerão da Terra. Em seu lugar, então, predominarão a alegria pura, a jovialidade, a satisfação, o júbilo real, com o homem despertando para a beleza e a arte, sem agressão nem promiscuidade. A folia em que pontifica o Rei Momo já foi um dia a comemoração dos povos guerreiros, festejando vitórias; foi reverência coletiva ao deus Dionísio, na Grécia clássica, quando a festa se chamava bacanália; na velha Roma dos césares, fortemente marcada pelo aspecto pagão, chamou-se saturnália e nessas ocasiões se imolava uma vítima humana.
Na Idade Média, entretanto, é que a festividade adquiriu o conceito que hoje apresenta, o de uma vez por ano é lícito enlouquecer, em homenagem aos falsos deuses do vinho, das orgias, dos desvarios e dos excessos, em suma.

Bezerra cita os estudiosos do comportamento e da psique da atualidade, “sinceramente convencidos da necessidade de descarregarem-se as tensões e recalques nesses dias em que a carne nada vale, cuja primeira silaba de cada palavra compõe o verbete carnaval”. Assim, em três ou mais dias de verdadeira loucura, as pessoas desavisadas, se entregam ao descompromisso, exagerando nas atitudes, ao compasso de sons febris e vapores alucinantes. Está no materialismo, que vê o corpo, a matéria, como início e fim em si mesmo, a causa de tal desregramento. Esse comportamento afeta inclusive aqueles que se dizem religiosos, mas não têm, em verdade, a necessária compreensão da vida espiritual, deixando-se também enlouquecer uma vez por ano.
Processo de loucura e obsessão. As pessoas que se animam para a festa carnavalesca e fazem preparativos organizando fantasias e demais apetrechos para o que consideram um simples e sadio aproveitamento das alegrias e dos prazeres da vida, não imaginam que, muitas vezes, estão sendo inspiradas por entidades vinculadas às sombras. Tais espíritos, como informa Manoel Philomeno no livro “Nas Fronteiras da Loucura”, ditado ao médium Divaldo Pereira Franco, buscam vítimas em potencial “para alijá-las do equilíbrio, dando inicio a processos nefandos de obsessões demoradas”. Isso acontece tanto com aqueles que se afinizam com os seres perturbadores, adotando comportamento vicioso, quanto com criaturas cujas atitudes as identificam como pessoas respeitáveis, embora sujeitas às tentações que os prazeres mundanos representam, por também acreditarem que seja lícito enlouquecer uma vez por ano.
Esclarece o autor espiritual, que esse processo sutil de aliciamento, dá-se durante o sono quando os encarnados, desprendidos parcialmente do corpo físico, fazem incursões às regiões de baixo teor vibratório, próprias das entidades vinculadas às tramas de desespero e loucura. Os homens que assim procedem não o fazem simplesmente atendendo aos apelos magnéticos que atrai os espíritos desequilibrados e desses seres, mas porque a eles se ligam pelo pensamento, “em razão das preferências que acolhem e dos prazeres que se facultam no mundo íntimo”. Ou seja, as tendências de cada um, e a correspondente impotência ou apatia em vencê-las, são o imã que atrai os espíritos desequilibrados e fomentadores do desequilíbrio, o qual, em suma, não existiria se os homens se mantivessem no firme propósito de educar as paixões instintivas que os animalizam.
Mas, do mesmo modo como somos facilmente dominados pelos maus espíritos, quando, como já dito, sintonizamos na mesma frequência de pensamento, também obtemos, pelo mesmo processo, o concurso dos bons, aqueles que agem a nosso favor em nome de Jesus. Basta, para tanto, estarmos predispostos a suas orientações, atentos ao aviso de “orar e vigiar” que o Cristo nos deu há dois mil anos, através do cultivo de atitudes salutares, como a prece e a prática da caridade desinteressada. (Fonte: Revista Visão Espírita - Março/2000)
Não foi à toa que Freud nos defendeu a tese de que a cultura nasce da repressão. Em verdade, estamos encarnados para reprimirmos as más tendências e adquirir elementos espirituais positivos como o amor, a solidariedade, o respeito ao próximo e às diferenças, em uma palavra, desenvolver as faculdades positivas do espírito.
A festa é o momento em que o espírito tem a oportunidade de pôr para fora, não necessariamente o que ele tem de pior, mas as suas emoções mais profundas. Como somos espíritos altamente imperfeitos, as nossas festas quase sempre explicitam emoções do tipo primário.
O carnaval é uma dessas festas que costuma ser chamada de folia, que vem do francês folle, que significa loucura ou extravagância sem que tenha existido perda da razão. No caso do carnaval a palavra significa desvio, anormalidade, fantasia descontração ou mesmo alegria. Assim, a festa carnavalesca é o momento em que o espírito humano pode projetar o que há de mais profundo e de mais primitivo em si mesmo. O poeta Vinicius de Morais deixou isto muito claro ao dizer: "Tristeza não tem fim, felicidade sim / A felicidade parece a grande ilusão do carnaval / a gente trabalha um ano inteiro / por um momento de sonho/ pra fazer a fantasia de rei ou de pirara ou jardineira / Pra tudo se acabar na quarta-feira...".
Amigos, a Doutrina Espírita nada proíbe ou obriga. Apenas mostra o caminho, esclarecendo quais são as consequências dos nossos atos, mostrando aos homens o que o mal acarreta, mas respeitando o nosso livre-arbítrio.
Aos que gostam do carnaval, busquem a diversão de forma sadia, sem abusos, tentando manter sempre a integridade psico-espiritual. Lembremos que a desonestidade, a falsidade, a inveja, o perjúrio, a vingança, a perversidade, o crime, a cólera, o egoísmo, sempre serão nocivos, pois conduzem o homem a grandes sofrimentos, independente da época em que sejam praticados.
Se gostamos do carnaval, podemos entrar na festa, mas lembrando que a doutrina nos ensina a manter sempre uma postura moral elevada, independente da ocasião. No mais, para todas as situações da vida, lembremos sempre da recomendação de Paulo de Tarso (I Coríntios 10:23): “Todas as coisas me são lícitas, mas nem tudo me convém; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas edificam”. Em resumo, seguir o conselho de Paulo: "Viver no Mundo sem ser do mundo."
 Então, jovem, fique ligado, por que: “Atrás do trio elétrico também vai quem já morreu...”.
No livro acima citado, Manoel Philomeno, que quando encarnado desempenhou atividades médicas e espiritistas em Salvador, relata episódios protagonizados pelo venerando Espírito Bezerra de Menezes, na condução de equipes socorristas junto a encarnados em desequilíbrios.
            

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