O DIJ - Departamento da Infância e Juventude da Sociedade Espírita Amor e Caridade, destaca o seguinte texto, publicado por Abel Sidney originalmente no site Orientação Espírita, que aborda a importante questão da educação.
A desatenção dos pais e das figuras parentais em relação aos filhos tem provocado problemas de toda ordem. Um desses problemas está na sobrecarga que as escolas sofrem por conta disso. A escola, na verdade, tem sido umas das instituições que mais tem sofrido com os desajustes da família. Todos os professores têm algumas histórias nada edificantes para contar sobre este tema. A gravidade do assunto é preocupação de Juan Carlos Tedesco, do educador argentino. 1 Ele dedicou parte de sua obra "O Novo Pacto Educativo" ao que denominou de "déficit de socialização dos alunos"2. Em outras palavras, a família, primeira instituição socializadora, não está cumprindo o seu papel, que é o de fazer as crianças assimilarem as regras e valores básicos, necessários à convivência social. Resumindo, elas não têm aprendido a "se comportar", a ter "bons hábitos", a "respeitar o direito dos irmãos e colegas", etc.
Diante deste grave quadro, envolvendo duas instituições fundamentais na formação de nossas crianças - a família e a escola, que reflexões o legado da Doutrina Espírita nos pode proporcionar? O que nos diz os espíritos a este respeito?
Em resumo, nós e nossos filhos somos espíritos. Vivemos tantas existências quantas sejam necessárias à nossa elevação intelecto-moral. O papel dos pais, neste processo, é o de educar os filhos, espíritos que retornam para mais uma experiência na carne. Nem sempre o que parece evidente, no entanto, se traduz em ações reais em nossa vida cotidiana... Por isso, a tarefa de educar os filhos, própria da família, dos pais, mesmo entre pais espíritas, tem sido relegada à segundo plano, transferida para a escola e os professores.
Para melhor nos situarmos, recorramos, pois ao Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo XIV, item 9, mensagem intitulada A ingratidão dos filhos e os laços de família (Kardec, 1996, p. 239), na qual Santo Agostinho nos alerta:
"...quando produzis um corpo, a alma que nele encarna vem do espaço para progredir; inteirai-vos dos vossos deveres e ponde todo o vosso amor em aproximar de Deus essa alma; tal a missão que vos está confiada e cuja recompensa recebereis, se fielmente a cumprirdes. Os vossos cuidados e a educação que lhe dareis auxiliarão o seu aperfeiçoamento e o seu bem-estar futuro". (grifos nossos)
É responsabilidade clara dos pais estes cuidados, que envolvem a segurança, a alimentação, a proteção enfim da criança, e a educação, que conforme Kardec deve prestar-se à formação de caracteres.
O Livro dos Espíritos, na questão 208, também elucida esta questão. Kardec pergunta aos espíritos sobre a influência dos pais sobre os filhos, após o nascimento destes. Depois de destacar que "grande influência exerce", é dito que "os Espíritos dos pais têm por missão desenvolver os de seus filhos pela educação. Constitui lhes isso uma tarefa".
Vamos expor em tópicos outros elementos que demonstram a complexidade deste problema:
• Os pais desejam educar da melhor forma os seus filhos. Os pais espíritas, aqueles que buscam a orientação da Doutrina Espírita para as suas vidas, têm consciência do seu papel e se esforçam para exercê-lo bem, no mais das vezes;
• No entanto, não basta desejar, é necessário que se crie condições reais para que isto aconteça. Isto é, o tempo e o espaço da convivência familiar devem estar plenamente preenchidos com este objetivo. Em outras palavras, o nosso lar, no pouco tempo que nos sobra para estarmos juntos, deve transformar-se em verdadeira escola da alma. É no espaço de convivência familiar que vai se forjar a citada "socialização primária", com seus valores, regras e a necessária carga afetiva, muito importante para a capacidade de aprendizado das crianças.
• Os pais desejam encaminhar os seus filhos profissionalmente. E aqui está um dos grandes problemas do nosso tempo: a excessiva atenção aos aspectos meramente cognitivos da aprendizagem dos filhos, como se apenas o desenvolvimento da inteligência os preparasse para a conquista do "futuro emprego" ou do "status social" com que sonhamos para ele. Daí a desmesurada atenção às ditas escolas boas e fortes, em que eles deverão se tornar competitivos no mercado de trabalho um dia... Curiosamente, o próprio mercado de trabalho trata de nos livrar destas ilusões ao apontar outros fatores determinantes no perfil de um bom profissional: um bom quociente emocional, que evidentemente não nasce apenas dos exercícios do raciocínio e da memória, não se aprende, enfim, nos bancos escolares, mas principalmente nas esferas de relações familiares, onde se inclui a convivência entre pais e filhos...
Diante deste quadro, devemos nos sentir alerta para as nossas responsabilidades diante dos filhos, para que estes como nossas cartas vivas, possam dar um dia, o melhor testemunho ao mundo do que puderam aprender conosco...
Em questão ao tempo sempre escasso para uma "vida em família", segundo os moldes antigos, a qualidade do tempo que dedicarmos aos nossos é que poderá marcá-los definitivamente. Para tanto é preciso redefinir nossa escala de valores e responder à simples, porém difícil questão: "o que tem sido mais importante em nossas vidas?"
Somente a conquista de laços afetivos apertados e convivência de qualidade no lar, poderão ser bases para a uma educação edificante e consciente para o aperfeiçoamento e evolução da Humanidade.
Referências
Nova Escola, Edição Nº 156, Outubro 2002.
Kardec, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 112ª ed. Brasília: FEB, 1996.
Kardec, A. O Livro dos Espíritos. 76ª ed. Brasília: FEB, 1995.
*Abel Sidney é professor e colabora no movimento espírita de Porto Velho/RO
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