10.6.11

Família em desordem?

Jerri Almeida*
Podemos pensar a família como uma configuração de vínculos. Esses vínculos permitem um processo de mediação entre o indivíduo e o mundo. Ou seja, a família, através de seus papéis, deveria se preocupar primeiramente com o processo educativo. A família contemporânea está vivendo uma crise de identidade, uma perda de rumos, daquilo que é o seu verdadeiro papel. Se por um lado, a família restrita gerou mais intimidade entre seus membros, também produziu mais conflitos.
O universo familiar necessita de uma “filosofia da convivência”,  de valores afirmativos que possam gerar suportes na administração de conflitos. A família atual parece ser uma família muito individualista onde cada qual pensa em si mesmo, perdendo a noção do conjunto. O compartilhar das relações, dos sofrimentos e das felicidades, vai se perdendo, e a convivência vai ficando fria e desmotivadora.
Os relacionamentos afetivos se tornam angustiantes e, sem base no diálogo, rompem-se com muita facilidade, produzindo inquietações, melancolias e, em alguns casos, ressentimentos e ódios. Em outras situações a conjugalidade é vivida intensamente pelo casal, enquanto seus papéis de “pai” e de “mãe” são delegados a terceiros. Os filhos, assim, viram órfãos de pais vivos.
É nessa estrutura ou desestrutura familiar que surge a droga, em suas várias faces. Mas, igualmente, poderá ser nessa estrutura familiar que ela será evitada. Uma família bem resolvida, certamente, será mais saudável, em todos os sentidos. Entenda-se por “família bem resolvida”, aquela que sabe administrar seus conflitos e desafios em conjunto, com responsabilidade e com o firme propósito de cuidar dos vínculos, educando os corações para sentirem o pulsar exuberante da vida.
Vivemos um ritmo existencial acelerado, muitos compromissos, muito trabalho e, nessa agitação, muitos esquecem o que é realmente “urgente”. Urgente é assumirmos os papéis familiares que nos cabem. Urgente é reservarmos momentos para conversarmos afetuosamente em família. Urgente é vivermos, mais do que falarmos, os valores imperecíveis do espírito, pois serão esses os grandes tesouros que podemos semear no coração de nossos filhos. São esses, entre outros, os suportes morais que podemos transmitir aos filhos para, quando alguém lhes oferecer a droga, eles, conscientemente, respondam: Não! Eu valorizo a vida, porque compreendo o meu papel nela.

*Jerri Almeida é diretor do Departamento de Assuntos da Família da Sociedade Espírita Amor e Caridade, expositor espírita e escritor. Leia outras publicações de Jerri no Blog Diálogos Filosóficos

Nenhum comentário:

Postar um comentário