Por Jerri Almeida
Embora se preocupe diretamente com o melhoramento ético e moral do homem, o pensamento espírita não se exime de analisar a dimensão política da vida em sociedade. Allan Kardec, quando tratou dos fins e formação das Sociedades espíritas, no Capítulo 30 Art. 1º. de O Livro dos Médiuns, advertiu que as “questões políticas” deveriam delas se manter afastadas. A preocupação de Kardec era certamente pertinente, considerando-se que as Instituições espíritas jamais devem assumir posicionamento político-ideológico ou político-partidário. Nesse sentido, podemos considerar que não há uma aproximação direta entre Espiritismo e política.
Léon Denis foi enfático ao considerar: “A influência do Espiritismo no progresso da sociedade se processa, não no estímulo à luta de classe, mas no campo íntimo, ampliando os horizontes sobre a natureza humana e sua destinação.” [1] As relações com o poder temporal fizeram, historicamente, muitas instituições religiosas respeitáveis tombarem ante seus fins mais profundos.
Mas o ser humano, diante das contingências evolutivas da Terra, é, na definição de Aristóteles, um “animal político”. No plano da individualidade, o espírita é alguém que está inserido na sociedade e que, portanto, como todo cidadão, possui responsabilidades com sua formação política, mesmo que não necessariamente partidária. Platão já dizia que, mesmo que o indivíduo não goste da política, será governado por políticos. Não devemos como cidadãos e, espíritas em particular, assumirmos uma postura de simples “indiferença” ao universo político que nos envolve.
Há uma problemática histórica no Brasil, onde o povo foi afastado das decisões, posto como um mero expectador das relações de poder. A sociedade brasileira viveu uma experiência democrática muito reduzida. Isso distanciou o indivíduo de seu protagonismo social, alienando-o das decisões políticas. No final dos anos 80, retomamos uma via democrática fundamental para o exercício das eleições e das escolhas que instituem uma sociedade mais horizontalizada.
A democracia, no dizer do saudoso professor Deolindo Amorim, é o regime que melhor corresponde à índole da Doutrina Espírita, pois a estrutura filosófica do Espiritismo não se adapta a nenhuma forma de poder totalitário. Afirmando, ainda, que: “A democracia é regime de conciliação, de equilíbrio, porque repele instintivamente qualquer hegemonia e permite a participação de todos no progresso comum, sem distinção de classes.” [2]
Fazer escolhas e opções faz parte determinante de nossa caminhada evolutiva. É nesse sentido que enquadra-se o pensamento aristotélico do “ser político”. A noção de “maturidade humana” engloba as responsabilidades inerentes aos papéis sociais. Ser cidadão é um desses papéis.
[1] DENIS. Léon. Socialismo e Espiritismo. 2ª ed. Matão-SP: Casa Editora O Clarim, 1987.
[2] AMORIM, Deolindo. Análises Espíritas. FEB. Cap. 19. Pág. 107.
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